terça-feira, 1 de junho de 2010

Quem ama trai?

Quem ama trai?

Muitas pessoas prometem nunca trair, outras admitem não conseguir ficar sem trair; tem aquelas que combinam que terão uma relação aberta, podendo assim se relacionar com outras pessoas. Mas, quando amamos será que conseguimos ter uma relação aberta, permitindo assim relacionar-se com outros e outras? E o que é mesmo traição? Por que as pessoas traem? O que motivam a traição? Questões como estas nortearão a construção deste texto.

O objetivo fomentador não é abordar a questão refletindo do ponto de vista moral, quem é o certo ou errado, isso é certo e aquilo é errado, mas, sim, o de refletir filosófico e sociologicamente sobre o ato de trair e do cuidado na relação entre qualquer tipo de amante, “O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade”. (Boff, 1999).

Ao propor as abordagens filosóficas e sociológicas para nortear a discussão, existência ou não da traição, é com o entendimento de que cada pessoa deve buscar o melhor para sua vida. Se o melhor é está com alguém que a trai ou ela trai é por sua livre escolha, “Somos condenados a ser livres”. (Sartre, 2000, 159). Pois, todos nós, somos responsáveis por nossas escolhas, seja ela qual for. Então, desejo que não só dia 12, mas todos os dias os casais vivam em liberdade qualquer forma de amar.

Sendo assim, a pessoa da relação não está sendo forçada a permanecer na mesma. Neste sentido a busca reflexiva será exercida pela aceitação ou não dessas escolhas, assim como a rejeição da busca de culpados e inocentes; o mergulhar dentro de nossas consciências com o objetivo de mudar a prática que nos orienta. Não será objeto deste texto descobrir quem traiu ou quem nunca traiu, mas de refletir sobre o ato de trair, assim como discutir como eu posso cuidar mais do meu parceiro, parceira, esposa, esposo, namorado, namorada, e por que não amante? Enfim, tomada de consciência daquilo que estou fazendo e caminhar para uma reconciliação. Recomeçar se for o caso.

O que entendo por amor? O amor é um sentimento que pode ser construído ou ele é algo dado, encontrado, como esperar um príncipe ou uma princesa que não chega? O que é amor para mim é amor para o outro? Quem ama trai ou não? O que é traição? Quem deseja outra pessoa fora da relação está traindo? Quando existe traição pode ser incompletude na relação a dois? Trair é de natureza do homem ou da mulher? Traição é uma prática cultural ou natural? Traição é sinônimo de ausência de amor? Será que aquela ou aquela que trai ama? O que pode levar uma pessoa a trair, ou, então, a não trair? Qual é a diferença entre traição e vingança? Por que trair?A traição deve ser aceita no inicio da relação, quando ainda não existe sentimento de respeito, de vínculo, de carinho, de afeto, de cumplicidade, de amor? Ou não precisa nada disso, só pelo fato de eu estar com alguém devo me manter fiel a ele, não importando se o amo ou não? O que move o trair da mulher ou do homem? É a falta de afeto, de carinho, de excitação, de amor, de excitação? O que é mesmo?

Não o ato, mas a consequência da traição hoje é algo de estudo, virou um fato social. Isso porque muitas pessoas ao se sentir traída quer matar, se matar, violentar de outras formas. Conhecemos muitas pessoas que traem, já traíram, e quando são descobertas e são deixadas choram, se desesperam, prometem não mais fazer tão ação. Quando são deixadas se desesperam, umas se matam e matam, outras continuam com sua prática de trair, outras deixam de trair. Em alguns casos há reconciliação em outros não. Também conhecemos pessoas que não traem e que são contra a esta prática. Também tem as que não traem por medo de ser descoberto ou descoberta.

Na mesa de bar, de boteco, de restaurante, nas reuniões em casa com amigos etc., o tema de amor e traição sempre é tratado, discutido, pensado, conversado. Principalmente agora no dia 12, o batizado pelo poder econômico de dia dos namorados. Mas por que não namoradas, ou namorado e namorada? Deixa para lá! No meio da discussão, da reflexão coisas são descobertas, coisas são ditas que não seriam se não tivesse fora do seu habitat, se não tivesse sobre efeito da bebida. Em casa onde os amantes vivem nada ou quase nada é dito sobre o assunto, assim como também nada é dito nos encontros entre namorados e namoradas. Muitos casais detestam serem convidados para discutirem relação, conhecida como DR.

Muitas pessoas falam que trair faz parte da natureza do sexo masculino, como se fosse parte constituída biologicamente, a exemplo dos olhos, do nariz, da boca, dos braços, das pernas do coração, do fígado etc. Isso sim que é natural, da natureza humana. O que diríamos então das mulheres que traem, assim como dos homens que não traem? Fazer parte da natureza é ter no seu biológico algo predeterminante para trair? Já foi comprovado sociologicamente que o discurso do natural é um discurso ideológico extremante de defesa machista.

O ato da traição é de ordem cultural, assim como aprendemos a comer, a beber cachaça ou outras bebidas, a falar mal ou bem, a dançar, a namorar, a fazer música, a adorar um ou mais deuses, a pensar de varias formas, ensinar os nossos filhos a mentir pedindo para eles dizerem que não estamos em casa quando de fato estamos, a odiar as pessoas por sua cor, opção sexual ou mesmo por sua crença religiosa, ou ao contrario etc., aprendemos também a trair. Têm culturas que não existe o esconder o que se faz o enganar, pois antes de iniciar uma relação às coisas são ditas e combinadas entre as partes.

Segundo o minidcionário de Silveira Bueno, trair é enganar por traição, ser infiel, não cumprir, delatar, descobrir involuntariamente (o que se devia ou desejava ocultar). Percebemos que o trair é consequência daquilo não dito ou o dito não cumprido. Logo, até o entendimento de traição é algo construído culturalmente. Nós não só trairmos namorados, namoradas, amantes, esposos, esposas. Quando não cumprimos o combinado ou não combinamos o que podemos fazer também trairmos amigos, amigas, filhos, mães, pães, etc., etc.

Penso que na relação às coisas precisam ser ditas e combinadas, pois assim construirmos espaços de possibilidades para o outro ou outra escolher. A possibilidade de escolha é o que nos tornam livres. Por ela nos tornamos sujeitos autônomos, independentes, construtores de nosso próprio destino. O principio ético poderia ser o do combinar, o do acordar, o do dialogar. Se não posso ficar sem trair que seja dito, pois assim dará chance ao outro se colocar, aceitando ou não. Só é proibido sofrer, se faz obrigatório ser feliz.

Ao estimular esse diálogo nasce à possibilidade da construção da cultura ética do cuidado com o outro ou outra. Pelo diálogo reconstruo a relação abalada por diversas situações; construo-me enquanto ser humano atento ao sentimento, à emoção do outro ou da outra. Enxergo conscientemente também os meus erros e acertos. Por ele desenvolvo atitudes de cuidado com a minha parceira ou parceiro como descreve Boff:

O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. (Boff, p. 33, 2000).

Sempre falamos em atitude, “somos de atitude”. Ela se resume ao que Marx chama de práxis, que seria simplesmente cumprir com o combinado. A atitude se materializa no fazer pensando e no pensado feito. Assim, me coloco como responsável principal pelos rumos que estou dando a minha relação com o outro, se estou praticando o combinado e dialogando sobre o mesmo.




Então pessoal, trair é de ordem do homem ou da mulher? É cultural ou natural? Como cuidar daquele ou daquela que nos relacionamos? Para o homem trair é moral, e para a mulher é amoral, mas por quê? Temos a possibilidade de reescrever outra página de nosso relacionamento pautado na ética do cuidado? Depende de cada pessoa envolvida na relação. O que estamos querendo construir para si e para o outro, e com o outro? E ai, quem ama trai? Discutam sobre vossas relações, talvez ai esteja a solução do sono gostoso, tranqüilo e prazeroso.

FELIZ TODOS OS DIAS DOS NAMORADOS, NAMORADAS E DA NAMORADA E DO NAMORADO.

Referência bibliográfica:

Boof, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis –R. de Janeiro:Vozes,13ªed.,1997.

Moisés Batista Santos de Oliveira.Professor de História e de filosofia do Estado.Professor de psicologia do trabalho da Fundação Baiana de Engenharia e professor de atualidade do cursinho pré vestibular Universidade comunitária .












_____Saber cuidar: ética do humana-compaixão pela terra.Petrópolis,RJ. : Vozes, 1999.

MARCONDES, Danilo: Textos básicos de filosofia, dos pré-socrático a Wittgenstein – 2ª.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2000.

BUENO, Silveiro: minidicionário da língua portuguesa- 2 ed. São Paulo: FDT, 2007.

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