terça-feira, 29 de junho de 2010

“O Dr. Está Fora!”

“O Dr. Está Fora!”
Por Moisés Oliveira*



Quem de nós, curiosos em artes, seja ela Literatura, Música, Dança Culinária, Moda, Pintura, Cinema (...), não fica, no primeiro momento, ao termino de vivencia de uma dessas expressões artísticas sem saber expressar o sentimento de felicidade que toma conta de nossas mentes quando nos identificamos com sua apresentação?
Focalizo minha reflexão na 7ª arte – cinema, cujo filme é, o “O Psicólogo”, traduzido no Brasil com o subtítulo “O Dr. Está Fora”, tendo como atuante principal o ator Kevin Spacey Fowler de origem Norte Americana no papel do Dr. Henry Carter, sob a direção Jonas Pater. A participação de Fowler não se limita a esse filme, pois encontramos a mesma em filmes como, “Beleza Americana” (1999), “Uma Vida sem limites” (2008), “A difícil arte de Amar” (1986), “A Corrente do Bem” (2000) e em outros.
No filme, “O Psicólogo está fora”, o Kevin assume a personagem de um psiquiatra que cuida de importantes personalidades da área do cinema Hollywoodiano, a exemplo do Robin William – vivendo o papel de Jack Holden, Saffron Burrows, Jack Huston, Griffin Dune, Pell James, Robert Logge, Keke Palmer, Laura Ramsey, Gore Vidal, Dallas Roberts e Mark Webber.
O drama ocorre entre 6 personagens principais: uma adolescente passando por problemas de autoestima consequente do suicido da mãe , uma atriz vivendo a separação e sem saber se relacionar com o avanço da idade, um rapaz por nome de Jesus - vendedor de maconha para a alta sociedade, um produtor de filmes com medo de qualquer tipo de contaminação e da morte, uma assistente de produção grávida, por último, belíssima personalidade, o Dr. Carter – vivenciando a problemática causada pelo suicídio da esposa.
Todos os personagens vivenciavam problemas reais tanto para eles quanto para as pessoas que compreendem que não só o seu problema é serio. Vejamos que a atriz sem saber se relacionar com a problemática do avanço da idade, questão vivida por muitas pessoas, principalmente aquelas que percebem a chegada da idade sem ter realizado o projeto de vida que a mesma traçou, não conseguindo aceitar sua velhice; o rapaz que vendia drogas, aparentemente desprovido de problemas de ordem psíquica, porém oferecendo um paliativo para a vida algumas pessoas, viva a sua tranquilamente; o produtor de filmes, de grandes estrelas vivendo em seu mundo de medo, escolhendo algumas pessoas para ele tocar, acreditava assim que a qualquer momento poderia ser contaminado por alguém ou morto por alguma coisa; a assistente de produção vivendo uma vida até então de outras pessoas, seja por ter alugado sua barriga a sua irmã, ou mesmo na aceitação das vontades do seu chefe, tinha um projeto de vida; o Dr. Carter tinha um único projeto de vida, destruir sua vida, seja biológica ou profissional, com ajuda da cânabis e o álcool.
Poderia resumir este comentário dizendo, quem não viu, vá e veja o filme, pois é simplesmente provocador, nos ajuda a pensar a nossa condição humana, nos ajudando a enfrentar nossos fantasmas existências. Mas, ainda não é o momento de ponto final.

O filme reflete a complexidade de problemas envolvidos pela mente humana. Problemas ainda não cristalizados - ainda tornados doenças psicossomáticas, assim como os considerados pela psicologia como doenças de ordem psíquica, ou até mesmo de ordem biopsicossocial.
A tristeza, assunto do livro do Dr. Carter – título, “Pare de se sentir triste” estava entre os 7 mais vendidos, escrito por ele na tentativa de ajudar pessoas a administrarem esse sentimento chamado de tristeza. Mas como pode um livro ajudar pessoas que estão passando por tristeza por falecimento de um ente amado? Como se libertar de um sentimento de tristeza que traz sofrimento?
Sentimentos vivenciados com mais intensidade pelo Dr. Carter e por Jemma, pois os dois tinham perdidos pessoas amadas. Entretanto, é no encontro dessas histórias de sofrimentos que a luz no fim do túnel aparece para que os mesmos deem continuidade as suas vidas.
O recomeço faz parte da vida vivida por nós, simples mortais. Isso enquanto houver vida para ser vivida, terminada com a morte. No filme o Dr. vai ao fim do porço e na morte encontra a vida. Às vezes precisamos “morrer” para encontrar o sentido de viver outra vez. Quantos de nós vegetamos em vez de viver? Vivendo como zubins esperando a morte chegar? Às vezes temos que solicitar ajuda, mas a quem? Penso que viver intensamente a tristeza e enfrentá-la, mas mergulhar na profundeza da melancolia e se ver como coitadinho e coitadinha é o final da vida. O filme passa, entre outras mensagens, a mensagem de que devemos identificar nossos problemas, compreendê-los e tentar transformar, caso não sejamos felizes com eles, ou aprendermos a conviver com os mesmos.

Oliveira, Moisés Batista Santos. Professor de Filosofia e História do Estado e professor de Psicologia do Trabalho da FBE ( Fundação Bahiana de Engenharia)









segunda-feira, 28 de junho de 2010

A FILOSOFIA É O ABSTRATO INALCANÇÁVEL

Por: Ivandilson Miranda *

Num mundo em que se prioriza mais o TER do que o SER, nós seres humanos temos limitações para alcançar as coisas abstratas e dificuldades para valorizar aquilo que a priori não tem valor.

É lógico que precisamos ter casa, ter emprego, ter dinheiro para fazer determinadas coisas, pois estamos num sistema capitalista (o mérito da questão não é um debate político-ideológico sobre modos de produção). Mas, é fundamental ser amigo, ser irmão, ser amoroso, ser crítico, ser cético, ser utópico, ser...

Às vezes, ou na maioria das vezes, só valorizamos as questões que envolvem uma reflexão sobre a nossa condição de SER quando perdemos alguém próximo, quando a relação amorosa não vai bem ou já acabou, quando somos demitidos, quando o TER está ameaçado. Aí refletimos sobre nossas emoções, sobre o que estamos gostando de fazer, sobre como estamos tratando as pessoas em casa e no trabalho, sobre como estamos vivendo de forma tão dura, fria, pragmática e automatizada

TER e não SER é estabelecer uma distância incomensurável com o abstrato, é não se predispor ao menos ao risco e a ousadia de cutucar o infinito. “Preciso aprender a ver o que não se vê, para me transformar no que o amor quiser.” canta o músico Jorge Vercilo na música Invisível.

A Filosofia e a possibilidade do conhecimento crítico nos coloca diante dessa prazerosa missão de saber e ao mesmo tempo de reconhcer que nada sabemos. Sócrates, um dos primeiros filósofos que reconhceu essa dinâmica, nos deu uma grande lição com o SEI QUE NADA SEI e o CONHECE-TE A TI MESMO.

Merleau Ponty, pensador contemporâneo afirmava que “filosofar é reaprender a ver o mundo.” Traduzindo em miúdos: precisamos perceber melhor a realidade, os dias passam e não são iguais e a necessidade de TER compromete a possibilidade de SER.

O Ter é absoluto, concreto, imediato, temporal. O Ser é processo, atemporal, histórico, infinito. A Filosofia é o abstrato inalcançável e como canta Vercilo em sua música paradigmática: “Eu quero ver o invisível, prever o que está no ar.

Eu preciso SER para TER e não TER para SER ou pereder para SER.

• Professor de Humanidade da UNIME - Salvador, professor de filsofia da FBE e mestrando em Cultura e Scociedade.
• Graduação em filsofia pela UCSsal e pós em Metodologia em Educação pela UNEB.

Nada é por acaso: 2ª parte.

Nada é por acaso: 2ª parte.

Por: Moisés Oliveira


Parece que tudo se repete, só muda o ano e as figuras. Estou falando sobre as crises que surgem, sua forma de fabricação, tudo isso movido por uma única força, a econômica. A economia, como já foi escrito anteriormente, neste mesmo texto, move o mundo, move as ideias.

Quando o Consenso de Washington foi implantado a economia, principalmente da América Latina, estava passando por uma situação de crise como descrita abaixo:

Os anos 1990 foram “decepcionantes” para a economia latino-americana, afirma um relatório de especialistas divulgado em 2005. De acordo com o documento, as reformas estruturais realizadas estimularam o crescimento, mas não resolveram problemas antigos. Exemplos citados: o número de pobres aumentou em 14 milhões na década e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita caiu mais de 1%, em média, entre 1997 e 2002. Atualidades Vestibular, p.116,1ª semestre de 2006.

Em 1989 a proposta de criação do Consenso de Washington foi pensada pelo Williamson, ex-economista do FMI e do Banco Mundial. Ele elaborou uma lista de medidas que os Estados Unidos deveriam aplicar na América Latina. Essas mediadas foram adotadas obrigatoriamente pelos países latino-americanos, aqueles que deviam aos EUA. Ficou sendo a cartilha do FMI e do BM para todos os países submetidos à política das mesmas instituições financeiras.

Neoliberalismo, também pode ser chamado o Consenso de Washington. O neoliberalismo prega que, o Estado não deve exercer nenhum controle sobre a economia, “o neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado”. Atualidades Vestibular, 2006.

Deve, portanto, promover a abertura econômica por meio da liberalização financeira, comercial e da eliminação das barreiras aos investimentos estrangeiros; a política de privatização deve ser alargada, assim como redução de subsídios, gastos na área social por parte dos governos e mudança nas formas de contratação.

Alguns autores escrevem e falam que a Globalização é datada desde os séculos XV e XVII. Neste texto essas datas não são relevantes, isto porque não nos remeteremos a elas. Interessa-nos refletir como está posta a globalização hoje, em pleno século XXI.

A palavra indica que há crescente interdependência entre mercados, governos, empresas e movimentos sociais em nível global. Essa é a nova fase da economia mundial. Todos estão interligados.

Queda do Muro de Berlim em 1989. Mas antes disso quem não se lembra da crise de 1929? Quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Depois desse acontecimento ficou mais que evidente como estávamos interligados! Voltando a queda do muro. Representou o termino dos blocos entre a União Soviética e do Leste europeu.
É como digo às vezes, a sistematização do pensamento e da prática global ocorreu na década de 90 com a chegada das novas ferramentas tecnológicas, dando uma nova roupagem ao sistema de produção capitalista. Ferramentas estas que vão desde a rede de telecomunicação à produção de produtos entre países, exemplo do IPOD feito entre vários países.

Vejamos como está estruturado o planeta terra. Olha como estamos solidariamente organizados. Melhor não poderia estar. Somos, digo o Brasil, campeão de exportação de matéria prima, ainda não é um país que desenvolve manufaturas de forte política competitiva, mas, sim, matéria prima. Hoje a divisão está da seguinte forma:

As multinacionais espalham a cadeia produtiva por vários paises, barganhando com empresas e governos “vantagens competitivas”: componentes mais baratos, salários e impostos menores, menos obrigações trabalhistas e ambientais. Na divisão final do bolo, os paises exportadores de matérias-primas acabam ficando com pouco, enquanto as fatias mais gordas vão para os paises ricos, que controlam o comércio mundial dos manufaturados. Atualidades Vestibular, p.18,1ª semestre de 2009.

Para Marx o capitalismo era o processo normal que deveria seguir à história, passando pelo socialismo até chegar ao comunismo. Hoje não se pensa mais assim. Primeiro pelo desejado pela humanidade, o ter, o acumulo que, diga-se de passagem, está concentrado nas mãos de mais ou menos 2% da população mundial; segundo, a história não tem fim, mas sim nós, simples mortais.

Com a atual crise econômica mundial materializada em 2008, centenas de empresas no mundo inteiro estão sendo fechadas, assim como aumenta o já existente crescente nº. de desempregados no mundo inteiro, mais de 200 milhões, isso quando este texto estava sendo construído. Segundo o grupo dos 20, os mais desenvolvidos economicamente e aqueles em expansão econômica, a crise se estenderá até 2010. Enquanto não chega esse dia às demissões crescem a cada instante, é só acompanhar os noticiários veiculados pelo meio de comunicação que saberemos em quantos milhões está hoje.

Fechamento de indústrias e o crescimento da miséria afetarão mais ainda aqueles que sempre foram afetados, os pobres, a camada mais desfavorecida economicamente, principalmente dos países da América Latina. O plano milionário lançado pelos EUA na sua própria economia trouxe uma luz no final do túnel, mas não o suficiente para evitar a queda econômica no resto do mundo, nem na sua própria. Falam em solidariedade econômica entre os paises, mas quando a crise acabar será que os mais ricos falarão em solidariedade socioeconômica no combate ao crescimento da miséria no mundo em desenvolvimento?

Mundo a vista, bem vindos (as) ao mundo dos sonhos! Hoje o paraíso do capitalismo é nos EUA, 30 milhões de seus habitantes, 10% da sua população, vivem no limiar da pobreza. Assim como no Brasil nos EUA os negros são maioria, são vítimas da política síntese, que o Estado atrapalha o crescimento econômico, portanto não deve interferir na política econômica. Essa teoria cai por terra em plena crise econômica mundial, quando os Estados - Nações socorreram as grandes empresas e indústrias.

OS países, até o Brasil, são chamados a socorrerem os bancários, os grandes bancos, caso não façam serão responsabilizados pela situação causada pelos EUA. No Brasil investimentos que poderiam ir para a área social foram desviados, isso eles não falam, é só prestar atenção como está a educação, a saúde e a segurança, ou melhor, o crescimento da pobreza no Brasil

REREFÊNCIA BIBLIOGRAFICA:

Os Pensadores. História da filosofia. Organizadora Bernadette Siqueira Abrão. São Pulo, ed. Nova Cultura, 1999.
Atualidades Vestibulares. Almanaque. 1ª semestre de 2006, ed. abril.
Atualidade Vestibular+ENEM. 1ª semestre de 2009, ed. Abril.

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Nada é Por Acaso: 1ª parte.

Por: Moisés Batista santos de Oliveira:

Nada é por acaso vai refletir, no primeiro momento, a origem e o contexto do surgimento do Consenso de Washington (neoliberalismo), a política que norteia sua ação e a Globalização; no segundo momento estabelecerá possíveis relações com a reflexão proposta e com atual crise que o mundo está vivendo. Para tanto, se faz necessário fazer o resgate da origem do pensamento econômico neoliberal, assim como alguns pensamentos da Revolução Industrial.

“Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete (...). Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas (...). (...). A divisão de trabalho, na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada oficio, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho escreve ele”. Adam Smith, 1723-1790. Os Pensadores, p. 363, 1999.

Com a chegada da Revolução Industrial, nome adotado por causa das transformações vividas consequentes da Revolução Francesa, a relação entre o homem e a natureza modifica-se, passando a existir uma divisão nítida de quem faz o quê dentro das fabricas. Sendo assim, se inicia o pensamento, a ideia fixa de que o homem pode dominar a natureza através da tecnologia. Essa ideologia inaugurada à era da Revolução Industrial, representando um novo momento na história da humanidade. Esse novo pensar vai além da relação homem / máquina como escrito no fragmento de texto acima. O liberalismo econômico deixa de ser uma ideia para se tornar realidade. Segundo Smith, “a força produtiva do trabalho estava na divisão do trabalho e não da acumulação do dinheiro”.

Quanto mais divisão de trabalho mais produção, mas riqueza, segundo Smith. o fragmento de texto acima representa o finalzinho do século XVIII, época qual o mundo estava entrando no processo tecnológico de implantação do capitalismo profissional. Momento de surgimento de grandes mudanças na área da economia, natureza e cultura, “Esse processo torna-se tão associado à introdução de máquinas nas indústrias que acaba simbolizado pela máquina a vapor (...)”.

A nova época inaugura uma nova relação de trabalho, uma nova forma de penar e agir, “assim, implica uma nova organização da atividade produtiva: Basicamente a substituição do sistema doméstico, em que cada artesão (...) executava um trabalho inteiro (...)”. Os Pensadores, p.365,1999.

Cautelosamente pode ser afirmado que esse novo momento trouxe a implantação da máquina, divisão de trabalho, surgimento das fabricas, indústrias, trabalho infantil, assim como a exploração das mulheres no trabalho fabril, à separação mais significativa entre classes – trabalhadora e patrão, e o surgimento de sindicatos, etc.

As transformações não só estavam ligadas aos aspectos econômicos e tecnológicos. Mas também a uma nova mentalidade ideológico de perceber o mundo, de tratar as pessoas. A visão economicista trazia grandes transformações ao cenário europeu, depois estendendo-se para o mundo Ocidental.Um novo paradigma se apresentava. Mais ou menos assim:

A economia torna-se uma dimensão da realidade - até seria considerada a realidade por excelência,
De que tudo o mais deriva - e, como tal, merece uma análise própria: a economia política. Os pensadores, p.366,1999.

Vivia-se um momento em que a política estava submetida ao poder econômico, todas as decisões, seja ela qual fosse, passava antes pelo retorno financeiro, pelo capital; fato vivido até hoje em pleno século XXI. Nada é por acaso, essa nova forma de pensar e agir era uma resposta à política mercantilista, “ao longo do século XVIII, como reação à política mercantilista pela qual o governo intervinha nas atividades econômicas (...)”. Os Pensadores, p.367,1999.

Laissez faire, laissez passer (“deixar fazer, deixar passar”). Segundo os Pensadores, era o lema dos fisiocratas, que estavam preparando o terreno para o liberalismo econômico. “Um sistema de livre concorrência que consolidaria a economia capitalista e a Revolução industrial”. Os Pensadores, p.367.

G20 se equilibra entre o crescimento e os déficits




REUTERS
Por Lesley Wroughton e Jan Strupczewski

TORONTO (Reuters) - Os líderes mundiais deram, nesse domingo, os últimos retoques nos planos para construir uma economia global mais estável, mas se afastaram da promessa de criar uma alternativa única, à medida que a crise que já dura dois anos dá lugar a uma recuperação desigual.

Equilíbrio foi a palavra do momento. O grupo das 20 principais economias ricas e emergentes do mundo quer reduzir pela metade o déficit orçamentário até 2013 sem impedir o crescimento, e impor restrições ao risco bancário sem sufocar os empréstimos.

"Essa é a corda bamba que temos que atravessar", disse o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, no início do encontro.

"Para apoiar a recuperação, é indispensável seguir em frente com os planos de estímulo existentes... mas, ao mesmo tempo, países desenvolvidos devem enviar uma mensagem clara que à medida que nossos planos de estímulo chegarem ao fim, vamos nos concentrar em colocar nossas finanças em ordem."

Os líderes também precisam mostrar o progresso obtido com uma promessa feita em setembro de reequilibrar a economia global. Isso quer dizer que nações que dependem de suas exportações, como a China e a Alemanha, precisam olhar para si mesmas e países endividados, inclusive os EUA, precisam mudar sua maneira de contrair e gastar empréstimos.

Fontes do G20 disseram à Reuters que não haveria nenhuma referência à moeda chinesa, o iuan, em uma declaração final a ser divulgada ao final do encontro, nesse domingo. Uma versão prévia do documento, obtida pela Reuters, via com bons olhos a recente decisão de Pequim de afrouxar o controle sobre o iuan.

"A maioria dos membros do G20 recebeu bem os planos do governo da China de introduzir o câmbio flutuante para o iuan", disse Andrei Bokarev, um alto funcionário do departamento de finanças da Rússia. "Mas essa frase não constará no comunicado final, atendendo a um pedido dos chineses."

O presidente dos EUA, Barack Obama, Hu Jintao, presidente da China e líderes das outras potências econômicas do G20, se reuniram pela quarta vez desde que a crise financeira dos EUA, em 2007, trouxe temores de uma nova Grande Depressão.

O G20 se uniu no ano passado para jogar trilhões de dólares na batalha contra a recessão. Desde então, o grupo se tornou o principal fórum para coordenar as ações para vencer os desafios globais da economia.

"A economia mundial está se recuperando aos poucos, mas as bases dessa recuperação ainda não estão sólidas, o processo não está equilibrado e ainda existem muitas incertezas", disse Hu.

Com um crescimento lento em muitos países desenvolvidos, Washington teme que o esforço da Europa para reduzir a dívida pós-recessão pode atrapalhar a recuperação, uma preocupação demonstrada por outros líderes do G20, inclusive pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que entende a pressão feita para colocar as finanças públicas de volta num caminho sustentável, mas pediu aos líderes do G20 que se lembrem de quem paga o ônus.

"Nós não devemos equilibrar o orçamento às custas das pessoas mais pobres do mundo", disse Ban durante o jantar de sábado do G20.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Falando Pacificamente
Por: Marcella O. B. Sampaio

Fazendo uma análise referente ao vídeo - Violentamente Pacificamente, mostrado em sala pelo professor Moisés e comentários dos colegas de curso- Segurança do Trabalho, disciplina Psicologia do Trabalho, pude constatar dois pontos em evidencias; o primeiro em destaque foi a aparência física do homem apresentado no vídeo, negro, cabelo rastafari, tatuado.

A princípio cria-se um preconceito devido a sua aparência física, mas, logo em seguida, podemos observar que por trás daquela aparência aparentemente castigada, encontrava-se um homem com uma mente extremamente pensante e questionadora.

Através do seu linguajar formal em meio as suas gírias populares, ele expressou toda a sua revolta referente à burguesia, aos nossos políticos e a “classe merda”.

Sua reivindicação pacífica fez com que fosse aberta uma discussão em sala de aula referente à violência existente nos bairros periféricos e o que realmente leva os adolescentes a entrarem no mundo da prostituição, tráfico, crime, ao invés de se tornar um cidadão do “bem”.

Expressando agora o meu ponto de vista referente a esse assunto, digo que as classes de poder aquisitivo superior, não oportunizam as classes inferiores, e desde pequenos os moradores dos bairros periféricos tem como exemplos de poder, estabilidade financeira, os traficantes que esbanjam nas suas roupas de marcas, seus carros importados.

Sem falar que esses traficantes para que não haja vazamento de informações, para que os moradores sejam sempre a favor deles, eles cuidam dessa comunidade, cuidam das pessoas que moram lá, dos seus interesses. Eles fazem pela sua comunidade o que os governantes não fazem, e isso acaba lhe dando ainda mais prestígio no meio em que vivem.

Diante disso, os “pequenos” moradores das periferias, vem essas pessoas como um exemplo a ser seguido, um exemplo ao alcance deles, um exemplo que faz parte da realidade deles, não as promessas que eles só vem pela televisão.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cosntrução de uma nova alternativa.

CONSTRUÇÃO DE UMA ALTERNATIVA.
1ª Parte.

Por, Moises Oliveira.

Todos nós sabemos que em 3 outubro 2010, pós euforia da Copa do Mundo, iremos às urnas para mais uma eleição, dessa vez para presidente, senador, governador e deputado federal.

Nas minhas conversas em sala de aula com alunos e alunas, nas minhas conversas na sala das professoras e professores, em bares, botecos, enfim, nos lugares por onde eu ando me surpreendo com as motivações de muitos brasileiros e brasileiras para votarem nessas eleições.

Tirando os militantes interessados em pagamentos por sua dedicação na preparação de campanha, seja por cargo ou dinheiro vivo; os militantes por convicção ideológica – em duas categorias, aqueles que ambicionam cargo por acreditarem em mudanças socioeconômicas e culturais, e aqueles que acreditam em mudanças estruturais, desde social a cultural, preferindo não ter nenhum cargo.

Assim como, os familiares dos candidatos; os amigos de infância ou mesmo de ambientes de trabalho, Escola, Faculdade, Universidade etc.; os cidadãos e cidadães que buscam retorno capital imediato, sendo empresários ou pessoas comuns. Por fim, os eleitores que deixam se seduzir pelo canto da seria; quem vai por livre escolha e com orgulho voltar em eleição no Brasil?

Houve uma época na história da nossa sociedade em que as convicções ideológicas estavam acima de retorno capital particular. Se a riqueza fosse possibilidade, precisaria ser possibilidade para o coletivo. Ficava fácil identificação de convicções ditas de esquerda e de direita. Época em que Socialismo e Capitalismo não sentavam na mesma mesa para negociar acordos políticos partidários, cujos interesses eram de ordem econômico e empresarial, assim como troca de favores.

Outrora, não muito distante, aproximadamente a partir de 1917 seria muito fácil a identificação de posições antagônicas reais. Podendo ser identificadas por meio do discurso em defesa de mudanças socioeconômicas e culturais para a maioria, assim como nos discursos dos que defendiam mudanças semelhantes para alguns.

Nostalgia? Sim. Por que não sentir saudade de uma época na qual no Brasil, muitas pessoas se orgulhavam em dizer, “eu sou de esquerda”? Território onde muitas lutas foram realizadas para que vivêssemos em terras democráticas?

Você que está lendo este texto já se perguntou, para que existe à política e o político? Muitos de nós desacreditados com a política partidária e com muitos dos políticos, será que não temos alternativa, a não ser a obrigação de votar forçadamente?

Imaginemos um belo dia, em solo brasileiro, a nós for dada a liberdade de exercer a nossa democracia, escolhendo ir voltar ou não? Quem será que aparecerá nas urnas? Que democracia é esta, mesmo contra a vontade da maioria da população votar é uma obrigação e não uma escolha? Por que será que pessoas são obrigadas a exercer um direito? Será que por causa daquela frase que muitos políticos e intelectuais proferem, “o povo é analfabeto politicamente”?

Aguardem a continuidade do texto 1. Em breve sairá o nº 2.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Odeio o Brasil!

Odeio o Brasil!
Por: Moisés Oliveia

Na terça-feira, 15 de junho, estréia da seleção brasileira contra Coréia do Norte, eu que não torço para nenhum time e penso que futebol aliena a população. E que é uma empresa geradora de bilhões de reais, euro e dólares, para empresários e alguns jogadores, passava pela Baixa de quinta com uma profunda inquietação.

Por que devo ficar animado se a seleção vai jogar hoje? Por que devo vestir a camisa da seleção brasileira, quais símbolos representam a Bandeira do Brasil, se somos um país riquíssimo e, mesmo assim, a educação pública é de péssima qualidade, assim como a segurança pública e a saúde?

Por que devo me animar com o jogo, se pessoas estão passando fome, se somos um país de analfabetos? País onde muitos jovens estão saindo das escolas e entrando no mundo do tráfico e que a única medida tomada pelas autoridades é armar mais a polícia? Escolas sendo fechadas, enquanto presídios são inaugurados? Pessoas buscando o caminho da individualidade na procura desenfreada pelo ter, enquanto outras não tem o que comer tampouco aonde morar?

Por que então devo torcer e me orgulhar de dizer que sou brasileiro, se políticos eleitos para representar o povo desviam dinheiro público, faz uso da máquina pública como se fosse sua empresa particular? Por que dizer que me orgulho de ser brasileiro se as autoridades, a exemplo do Judiciário, Legislativo, Executivo não combatem a injustiça social em nosso país? Qual é a origem do sentimento de pertencente ao Brasil, se os empresários só querem saber do seu acúmulo capital, e nada fazem para ajudar a diminuir com a miséria?

As dúvidas chegavam como o frio e o vento que tomam conta de nossa cidade: Como posso dizer que me sinto brasileiro, por isso somos todos iguais, se somos julgados por causa de nossa cor de pele, da forma do nosso cabelo, de nossas religiões, de nossa opção sexual, por nossos estereótipos?

Fiz um esforço intelectual e fui buscar motivação para torcer e me animar pelo jogo nas construções de políticas sociais realizadas pelo governo lula, a exemplo de Política de aumento do salário mínimo, do Programa de Luz para todos, Programa Nacional de Agricultura Familiar, do ProUni, aumento do salário dos aposentados, da legalização e estimulo das terras dos quilombos. Fiquei sorridente e ai falei comigo mesmo, acabou a minha dúvida vou torcer pelo BRASIL e ficar muito feliz por isso.

Depois de passada a euforia expressada pelo sentimento de felicidade, mesmo me recusando a pensar mais sobre os motivos de torcer ou não, cair do cavalo pela força do meu pensamento que me dizia, ele não está fazendo nada mais que sua obrigação, além disso, essas ações são medidas paliativas, não indo, portanto, a raiz do problema que não é só de ordem só econômica. Ele foi eleito para fazer mais que isso, e quantas corrupções houve em seu governo, quanto dinheiro público foi desviado?

Quando a tristeza estava tomando conta de mim, perto de um campo na Baixa de Quina, onde sempre fica dormindo pessoas, seres humanos em situação de rua, avistei um grupo de 4 senhores moradores de rua, dois estavam vestidos com as camisas do Brasil, e os outros dois estavam colocando suas camisas para enxugar em um varal improvisado pelos mesmos.Cair do cavaloa e pensei, ai está a fonte da minha motivação. Pois, são eles quem mais deveriam odiar o Brasil. Por quê? Acho que não precisa dizer, vocês sabem!

A vocês brasileiros invisíveis, fonte da minha motivação para torcer pela seleção Brasileira, obrigado pelo exemplo de amor pelo país que maltrata vocês.

Ética do Cuidado

Ética do Cuidado
Por: OLIVEIRA, Moisés Batista Santos


Há 13 anos venho desenvolvendo um sistemático trabalho com meninos e meninas em situação de rua na cidade do salvador, Bahia, Brasil, não só o de observação, mas exercendo o papel de educador, acreditando e possibilitando que esses possam lutar por sua cidadania, sua autoestima, construindo assim suas autonomias intelectuais, emocionais e econômicas.
Durante esses anos seguidos, pude perceber que a chegada, permanência e aumento de crianças e adolescentes na rua, é um sinal claro de que os sistemas sóciopolítico, econômico e ético estão falidos. Portanto precisam de mudanças.

Não porque o Brasil é um país pobre, pelo contrário é rico. Pois, estávamos na 6ª posição na economia mundial, de acordo com os resultados do ranking, divulgado pelo Banco Mundial em 2005, quando o PIB somava a R$ 2,148 trilhões.

O PIB brasileiro corresponde a quase 3% do PIB mundial. Equiparado com os países da América Latina. O poder de compra do Brasil responde a quase metade da economia de todos os paises latinos americanos juntos. Sua posição em 2007 era a 10ª no ranking mundial, com um PIB de mai ou menos USS 882 bilhões.
Hoje a economia, segundo os estudiosos da área econômica, está crescendo mais que o permitido. Mas por que ainda nas ruas das grandes cidades encontramos pessoas passando fome, sem dignidade, sem condições de viver decentemente?

Como educador social consciente de minhas responsabilidades, enquanto pertencente à cidade, brasileiro, um ser político, professor da escola Pública do estado, penso esses dados para desenvolver a tese de que a situação por qual passam milhares de crianças e adolescentes em situação de miserabilidade nas ruas das grandes cidades, dos seus bairros, no tráfico de drogas, não é por ser o Brasil um país pobre, mas, por ser ele um país injusto, onde a concentração de sua renda econômica está nas mãos de uma elite empresarial, cuja sua representação é de 2%, e que não está nem ai para essa parte da população. Além disso, por causa da corrupção e dos péssimos políticos de ocupam a Casa dos Deputados, Senado e outros Órgãos Públicos de esfera da política partidária.

Além disso, há uma falta de compromisso na efetivação de políticas públicas por parte dos poderes públicos que chamarei de Governo Federativo: Municipal, Estadual e Federal. Essa falta de compromisso político é datada desde o período colonial, época em que as obrigações com crianças e adolescentes ficavam a cargo da Igreja, Companhia de Jesus. Ensinavam a ler e a escrever com o intuito de catequizá-los.

A situação de crianças e adolescentes em situação de rua é desde Brasil colônia, quando estávamos sobre o domínio dos portugueses, nos séculos XVI/XVII. Entretanto, com a libertação dos escravos/ negros, a situação piora ao sancionar a Lei do ventre livre.

Sendo assim, todos os meninos e meninas filhos e filhas dos negros e negras nascidos na época do Brasil Império estavam “livres”. Eram jogados nas ruas, sem a presença dos seus pais para lhes educarem e cuidar, sem nenhuma assistência por parte de quem quer que fosse.

Contanto, só no período do Brasil República, século XIX, que o fenômeno de crianças e adolescentes em situação de rua é encarado como problema social. Postura esta que fora motivada pelas circunstâncias históricas por causa da Proclamação da República que, com a abolição da escravatura e com a chegada de mão de obra européia, fez aumentar o número de crianças e jovens nas ruas.

O Estado, de forma tímida, tenta minimiza o fenômeno, desde então, por meio de políticas públicas ineficientes. Exemplo do que está sendo dito é, se um/uma adolescente que vive na rua viciado em drogas deseje ser tratado em um espaço de acompanhamento de tratamento do estado, não existe. Além disso, se um menino ou menina queira deixar as ruas, mas não tem uma família acolhedora é muito difícil achar um espaço para ele ou ela.

Existem constantes lutas tanto por parte do Ministério Público quanto de ONGs, exigindo que o Governo assuma de fato a situação de abandono por qual passam crianças e adolescentes nas ruas do Brasil.

A concretização de política pública no cuidado de criança e adolescente, execução de fato do Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990 para assegurar os direitos e deveres das crianças e adolescentes brasileiras, em processo Formativo, abandonadas a sorte, ao destino, é mais que urgente.

Essas crianças e adolescentes são expulsas de suas casas ou conduzidas a saírem entre a idade de 6 a 17 anos, pelo desemprego estrutural dos seus pais, pelos abusos sexuais, espancamentos ocorridos em suas casas, pelas mortes de pais e/ou mães, pelo envolvimento de familiares com trafico ou uso de drogas, pelos maus tratos em suas comunidades por policiais, por seguranças de mercados, onde às vezes são abordadas pelos mesmos de forma bem violenta seguida de espancamento, às vezes de morte, quando fazem alguns furtos.

A esses falta-lhes espaço de compreensão quando estão em escola pública de péssima qualidade que deveria acolher as diferenças; em seus lares, sendo vítimas de uma educação dos pais onde não ajudam a entender as transformações por qual estão passando, além do olhar preconceituoso, moralista e violento de nós membros da sociedade.

Existe, portanto um conjunto sistêmico de fatores que perpassa desde a educação, trabalho, saúde, lazer, cultura, a vulnerabilidade socioeconômica. Por esses motivos os mesmos são conduzidos, possibilitados, empurrados, convidados a buscar dinheiro e sobreviverem. Tudo isso pode ser resumido na falta de acessibilidade aos bens públicos causador da exclusão social dos pobres. A sobrevivência é mais fundamental que a morte e a miséria.

Uns fazem furtos, esmolam, traficam, assaltam, matam, trabalham, são usados sexualmente pela venda do seu corpo na promessa de dinheiro para comprar comida, drogas, etc., outros usam drogas, a exemplo de cola, crack, maconha, bebidas alcoólicas, etc.

No olhar do estigma social essas crianças e adolescentes estão nas ruas porque querem, porque são preguiçosas, não querem estudar, não querem obedecer a seus pais. Sendo assim, são exigidas punições mais duras, a exemplo de retirada violenta das ruas pela policia e pelo juizado de menores, agentes destinados a cuidar de crianças e adolescentes causadores de atos inflacionais ou que sofrem atos, trancafiando-as em espaço fechados, matando ou espancando-as.

Essa forma de pensar e agir ideológica tira do Mercado, Estado e sociedade suas responsabilidades jogando quanto à situação, culpabilizando as vítimas, famílias, e até mesmo professores.
Muito temos para fazer, Sociedade Civil Organizada, Estado, Mercado e elite brasileira. Pois, no maior Estado da América Latina, São Paulo, no período de 2007 foi contabilizado 1.842 crianças e adolescentes em situação de rua. Umas vão para casa no final de semana, outras no final do dia e outras esqueceram o caminho de casa.

Temos 27 Estados no território brasileiro, maioria deles existe presença de crianças e adolescentes nas ruas.

Têm muitas propostas pensadas, construídas, porém é preciso ser colocadas em prática, a exemplo de abrigos para meninos a partir dos 15 anos, construção de um hospital estadual para cuidar de meninos e meninas dependentes de substâncias psicoativas, a exemplo de cola, material tóxico que serve para colar sapatos, crack, maconha e outros.

Precisamos desenvolver uma prática da ética do cuidado através de políticas públicas de qualidade para atender crianças e jovens em situação de rua, seja dos grandes centros ou em sua comunidades.


terça-feira, 8 de junho de 2010

Educar é preciso, proibir e morrer é desnecessário.

Educar é preciso, proibir e morrer é desnecessário.

Na quinta-feira, 3 de junho de 2010, estava no Evento na Pituba, Conexão vivo, iniciado no dia 31/05 indo até 05 do 06, “ projeto regional de música que integra as ações do Conexão Vivo na Bahia”, quando uma pessoa me entregou um panfleto qual o título era: “ 13 de junho – CRISTO DA BARRA, 14HS. Marcha da maconha”.
No 3ª parágrafo do documento estava escrito:

A Marcha da Maconha e o Maio Verde não são eventos de cunho apologético, nem seus organizadores incentivam o uso da maconha ou de qualquer outra substância ilícita. Respeitamos as leis e a constituição do país do qual somos cidadãos e procuramos respeitar não só o direito à livre manifestação de idéias e opiniões, mas também os limites legais desse e de outros direitos civis. (ABESUP- Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos – absup@uol.com.br Marcha da Maconha Brasil- WWW.marchadamaconha.org.)


Não satisfeito com as informações trazidas no panfleto fiz uma ligeira pesquisa no Google, foi ai que me deparei com algumas informações sobre a marcha da maconha proibida ano passado em alguns Estados brasileiros:

A juíza Nartir Dantas, da 2ª Vara Privativa de Tóxicos, acatou o pedido feito por quatro promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecco), do Ministério Público Estadual (MPE), e impetrou liminar suspendendo a realização da Marcha da Maconha em Salvador. O evento estava programado para acontecer no próximo domingo, dia 3, no Farol da Barra.
Os promotores ingressaram com uma ação cautelar ontem, alegando que a Marcha da Maconha faria apologia ao uso de drogas, sendo organizada por pessoas não identificadas que estariam se reunindo para discutir o assunto por meio de um site que não aponta quem são os responsáveis do evento. Além disso, o MPE defende também que atos públicos desse tipo serviriam para divulgar a informação de que a maconha faria bem à saúde física e mental de seus usuários. (Marcha da Maconha Salvador 2009. marchadamaconha.org/.)

No mesmo documento tinha também a informação sobre os objetivos da comissão organizadora do evento:


Os objetivos principais do Coletivo são: Criar espaços onde indivíduos e instituições interessadas em debater a questão possam se articular e dialogar; Estimular reformas nas Leis e Políticas Públicas sobre a maconha e seus diversos usos; Ajudar a criar contextos sociais, políticos e culturais onde todos os cidadãos brasileiros possam se manifestar de forma livre e democrática a respeito das políticas e leis sobre drogas; Exigir formas de elaboração e aplicação dessas políticas e leis que sejam mais transparente, justas, eficazes e pragmáticas, respeitando a cidadania e os Direitos Humanos. . (Marcha da Maconha Salvador 2009. marchadamaconha.org/.)
Mas adiante, no mesmo documento, encontrei mais uma informação da marcha transcrito pelo coletivo organizador:
O Coletivo Marcha da Maconha Brasil reafirma que suas atividades não têm a intenção de fazer apologia à maconha ou ao seu uso, nem incentivar qualquer tipo de atividade criminosa. As atividades do Coletivo respeitam não só o direito à livre manifestação de idéias e opiniões, mas. (Marcha da Maconha Salvador 2009. marchadamaconha.org/.)
Viram as bases de construção dos argumentos a favor e contra a marcha da maconha? Sabemos que eles se afirmam na defesa ideológica de posições. Os organizadores defendem democratização do debate sobre o uso ou não, possibilidades de construção de políticas e educar a população; o MP se baseia na Constituição, ao mesmo tempo levantando questões que, em documentos, os organizadores falam de outra forma. O mais interessante é que O Estado representado pelo Ministério Público não aborda a possibilidade de democratizar a discussão do uso ou não da canabis. Assim como o crescimento da existência do fenômeno, principalmente entre jovens. Pois, a existência dessa situação já se tornou um fenômeno social que precisa ser debatido, refletido na busca de respostas, principalmente para os que morrem, seja pelo uso ou mesmo por sua comercialização.
Quantos jovens, maioria, pretos, periféricos e pobres estão morrendo? Discutir a legalização ou não, tanto do uso quanto da venda da maconha e outras substâncias psicoativas, é responsabilizar também o Estado para que assuma sua responsabilidade como gestor e executor de políticas públicas de cuidado de dezenas de milhares de pessoas que tem suas vidas dependentes ao uso das substâncias psicoativas, e ai não é só colocar a polícia como gestora de soluções as problemáticas oriundas do tráfico e uso de substâncias psicoativas.
Debater, refletir, discutir com a população das consequências, efeitos do uso de substâncias psicoativas é preparar a população para tomar sua própria decisão, assumindo conscientemente as conseqüências. Isso é educar, é preparar o futuro e cuidar do presente de milhares de usuários e não usuários. Sendo assim, vale e tem mais resultado que uma simples liminar decretada por uma ordem judicial e executada pela polícia. Não é só de ordem de saúde pública esse debate, mas também de ordens socioeconômica.
Quem recorda da Santa Inquisição na época da expansão da Igreja Católica na busca de territórios, expansão da sua fé e na busca de mais riquezas, na Idade Média, as chamadas Cruzadas Santas?
Pois é, nesta época as pessoas eram proibidas de expor sua ideologia, sua forma de pensar. As que se ousassem eram castigadas de diversas formas de violência, desde torturas, a tortura acompanhada por morte.
Assumir o debate não significa permitir que a população faça uso de maconha ou qualquer tipo de substâncias psicoativas. Mas de fomentar fórum de discussão na busca horizontes de como gerenciar o trafego de substâncias psicoativas, assim como o seu consumo, a exemplo das grandes indústrias de cigarros, armas e de bebidas alcoólicas. Negar tal debate é colocar uma venda nos olhos para nada enxergar, negando assim a situação que muitas famílias são obrigadas a conviver em suas comunidades; negando assim a situação que passam muitos professores em escolas públicas, porque já faz muito tempo que nelas o tráfico de drogas já está presente.
Não estamos mais na ditadura militar, eu acho! Estamos vivendo na juventude do processo democrático. Democracia significa a participação da maioria em qualquer decisão que diz respeito aos rumos da sociedade. Não deve ser um decreto judicial quem deve resolver um fenômeno em expansão na sociedade de grande significância social. Será o decreto uma decisão divina, escrito por pessoas inspiradas por Deus?
Educar a população para assuntos de tamanha natureza não deve ficar só a cargo da família, pois até ela está se encontrar no tiroteio sem saber identificar inimigos e aliados. O Estado precisa ir além de intervenção paliativa deve, sim, desenvolver políticas públicas de cuidado das pessoas que por algum motivo compram, vendem e usam substâncias psicoativas, a exemplo de crack e maconha, os mais presentes entre a juventude, sem mencionar a bebida alcoólica. Esse tratamento oferecido as vítimas, antes, durante seu envolvimento com drogas não pode ser visto como custo e sim como investimento. Educar é preciso, proibir e morrer é desnecessário. O proibido está matando muito, e ai o que fazer?
E você caro leitor ou leitora, o que pensa dessa situação? Qual é a sua opinião da situação que estamos vivendo em pleno século XXI, descrita acima? Democratizar é participar, discutir, buscando assim o melhor coletivamente para o coletivo.
OLIVEIRA, Moisés Batista Santos: Educar é preciso, proibir e morrer é desnecessário. Professor de história e filosofia do Estado; professor de ética da Escola Metropolitana de Enfermagem e de Psicologia da Fundação Baiana de Engenharia.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Quem ama trai?

Quem ama trai?

Muitas pessoas prometem nunca trair, outras admitem não conseguir ficar sem trair; tem aquelas que combinam que terão uma relação aberta, podendo assim se relacionar com outras pessoas. Mas, quando amamos será que conseguimos ter uma relação aberta, permitindo assim relacionar-se com outros e outras? E o que é mesmo traição? Por que as pessoas traem? O que motivam a traição? Questões como estas nortearão a construção deste texto.

O objetivo fomentador não é abordar a questão refletindo do ponto de vista moral, quem é o certo ou errado, isso é certo e aquilo é errado, mas, sim, o de refletir filosófico e sociologicamente sobre o ato de trair e do cuidado na relação entre qualquer tipo de amante, “O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade”. (Boff, 1999).

Ao propor as abordagens filosóficas e sociológicas para nortear a discussão, existência ou não da traição, é com o entendimento de que cada pessoa deve buscar o melhor para sua vida. Se o melhor é está com alguém que a trai ou ela trai é por sua livre escolha, “Somos condenados a ser livres”. (Sartre, 2000, 159). Pois, todos nós, somos responsáveis por nossas escolhas, seja ela qual for. Então, desejo que não só dia 12, mas todos os dias os casais vivam em liberdade qualquer forma de amar.

Sendo assim, a pessoa da relação não está sendo forçada a permanecer na mesma. Neste sentido a busca reflexiva será exercida pela aceitação ou não dessas escolhas, assim como a rejeição da busca de culpados e inocentes; o mergulhar dentro de nossas consciências com o objetivo de mudar a prática que nos orienta. Não será objeto deste texto descobrir quem traiu ou quem nunca traiu, mas de refletir sobre o ato de trair, assim como discutir como eu posso cuidar mais do meu parceiro, parceira, esposa, esposo, namorado, namorada, e por que não amante? Enfim, tomada de consciência daquilo que estou fazendo e caminhar para uma reconciliação. Recomeçar se for o caso.

O que entendo por amor? O amor é um sentimento que pode ser construído ou ele é algo dado, encontrado, como esperar um príncipe ou uma princesa que não chega? O que é amor para mim é amor para o outro? Quem ama trai ou não? O que é traição? Quem deseja outra pessoa fora da relação está traindo? Quando existe traição pode ser incompletude na relação a dois? Trair é de natureza do homem ou da mulher? Traição é uma prática cultural ou natural? Traição é sinônimo de ausência de amor? Será que aquela ou aquela que trai ama? O que pode levar uma pessoa a trair, ou, então, a não trair? Qual é a diferença entre traição e vingança? Por que trair?A traição deve ser aceita no inicio da relação, quando ainda não existe sentimento de respeito, de vínculo, de carinho, de afeto, de cumplicidade, de amor? Ou não precisa nada disso, só pelo fato de eu estar com alguém devo me manter fiel a ele, não importando se o amo ou não? O que move o trair da mulher ou do homem? É a falta de afeto, de carinho, de excitação, de amor, de excitação? O que é mesmo?

Não o ato, mas a consequência da traição hoje é algo de estudo, virou um fato social. Isso porque muitas pessoas ao se sentir traída quer matar, se matar, violentar de outras formas. Conhecemos muitas pessoas que traem, já traíram, e quando são descobertas e são deixadas choram, se desesperam, prometem não mais fazer tão ação. Quando são deixadas se desesperam, umas se matam e matam, outras continuam com sua prática de trair, outras deixam de trair. Em alguns casos há reconciliação em outros não. Também conhecemos pessoas que não traem e que são contra a esta prática. Também tem as que não traem por medo de ser descoberto ou descoberta.

Na mesa de bar, de boteco, de restaurante, nas reuniões em casa com amigos etc., o tema de amor e traição sempre é tratado, discutido, pensado, conversado. Principalmente agora no dia 12, o batizado pelo poder econômico de dia dos namorados. Mas por que não namoradas, ou namorado e namorada? Deixa para lá! No meio da discussão, da reflexão coisas são descobertas, coisas são ditas que não seriam se não tivesse fora do seu habitat, se não tivesse sobre efeito da bebida. Em casa onde os amantes vivem nada ou quase nada é dito sobre o assunto, assim como também nada é dito nos encontros entre namorados e namoradas. Muitos casais detestam serem convidados para discutirem relação, conhecida como DR.

Muitas pessoas falam que trair faz parte da natureza do sexo masculino, como se fosse parte constituída biologicamente, a exemplo dos olhos, do nariz, da boca, dos braços, das pernas do coração, do fígado etc. Isso sim que é natural, da natureza humana. O que diríamos então das mulheres que traem, assim como dos homens que não traem? Fazer parte da natureza é ter no seu biológico algo predeterminante para trair? Já foi comprovado sociologicamente que o discurso do natural é um discurso ideológico extremante de defesa machista.

O ato da traição é de ordem cultural, assim como aprendemos a comer, a beber cachaça ou outras bebidas, a falar mal ou bem, a dançar, a namorar, a fazer música, a adorar um ou mais deuses, a pensar de varias formas, ensinar os nossos filhos a mentir pedindo para eles dizerem que não estamos em casa quando de fato estamos, a odiar as pessoas por sua cor, opção sexual ou mesmo por sua crença religiosa, ou ao contrario etc., aprendemos também a trair. Têm culturas que não existe o esconder o que se faz o enganar, pois antes de iniciar uma relação às coisas são ditas e combinadas entre as partes.

Segundo o minidcionário de Silveira Bueno, trair é enganar por traição, ser infiel, não cumprir, delatar, descobrir involuntariamente (o que se devia ou desejava ocultar). Percebemos que o trair é consequência daquilo não dito ou o dito não cumprido. Logo, até o entendimento de traição é algo construído culturalmente. Nós não só trairmos namorados, namoradas, amantes, esposos, esposas. Quando não cumprimos o combinado ou não combinamos o que podemos fazer também trairmos amigos, amigas, filhos, mães, pães, etc., etc.

Penso que na relação às coisas precisam ser ditas e combinadas, pois assim construirmos espaços de possibilidades para o outro ou outra escolher. A possibilidade de escolha é o que nos tornam livres. Por ela nos tornamos sujeitos autônomos, independentes, construtores de nosso próprio destino. O principio ético poderia ser o do combinar, o do acordar, o do dialogar. Se não posso ficar sem trair que seja dito, pois assim dará chance ao outro se colocar, aceitando ou não. Só é proibido sofrer, se faz obrigatório ser feliz.

Ao estimular esse diálogo nasce à possibilidade da construção da cultura ética do cuidado com o outro ou outra. Pelo diálogo reconstruo a relação abalada por diversas situações; construo-me enquanto ser humano atento ao sentimento, à emoção do outro ou da outra. Enxergo conscientemente também os meus erros e acertos. Por ele desenvolvo atitudes de cuidado com a minha parceira ou parceiro como descreve Boff:

O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. (Boff, p. 33, 2000).

Sempre falamos em atitude, “somos de atitude”. Ela se resume ao que Marx chama de práxis, que seria simplesmente cumprir com o combinado. A atitude se materializa no fazer pensando e no pensado feito. Assim, me coloco como responsável principal pelos rumos que estou dando a minha relação com o outro, se estou praticando o combinado e dialogando sobre o mesmo.




Então pessoal, trair é de ordem do homem ou da mulher? É cultural ou natural? Como cuidar daquele ou daquela que nos relacionamos? Para o homem trair é moral, e para a mulher é amoral, mas por quê? Temos a possibilidade de reescrever outra página de nosso relacionamento pautado na ética do cuidado? Depende de cada pessoa envolvida na relação. O que estamos querendo construir para si e para o outro, e com o outro? E ai, quem ama trai? Discutam sobre vossas relações, talvez ai esteja a solução do sono gostoso, tranqüilo e prazeroso.

FELIZ TODOS OS DIAS DOS NAMORADOS, NAMORADAS E DA NAMORADA E DO NAMORADO.

Referência bibliográfica:

Boof, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis –R. de Janeiro:Vozes,13ªed.,1997.

Moisés Batista Santos de Oliveira.Professor de História e de filosofia do Estado.Professor de psicologia do trabalho da Fundação Baiana de Engenharia e professor de atualidade do cursinho pré vestibular Universidade comunitária .












_____Saber cuidar: ética do humana-compaixão pela terra.Petrópolis,RJ. : Vozes, 1999.

MARCONDES, Danilo: Textos básicos de filosofia, dos pré-socrático a Wittgenstein – 2ª.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2000.

BUENO, Silveiro: minidicionário da língua portuguesa- 2 ed. São Paulo: FDT, 2007.